quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Mostra Alaya Dança 2016 Brasília - DF

Expectativas




A Sétima Mostra de Interpretes Criadores Alaya Dança teve hoje sua primeira fase concluída, digamos assim, pois por dois dias viemos conduzidos de forma iluminada por Lenora Lobo. Que é a diretora do projeto e também tem uma “envergadura” imensurável na dança mundial. Lenora é piauiense, e eu nunca havia trabalhado com ela, embora já conhecesse sua trajetória e sua contribuição no campo do conhecimento em dança. Eu reconheço que de fato, pra mim o ser humano superou o mito.  Pode ser assim que eu diria, na conclusão de hoje de sua bela introdução, ao que nos moveu até o Instituto Federal de Brasília: A dança. Um processo que em dois dias já deu pra perceber a grandeza e riqueza de possibilidades criativas. O melhor foi nos ligar com pessoas de todo Brasil na busca de uma “Dança Pobre” que tem fundamento no “Teatro Pobre” e  segundo Grotowski representa na sua essência a negação do ecletismo e na valorização da técnica cênica e pessoal do ator/bailarino/criador/interprete.





03 de outubro, com Lina Do Carmo,


Ela diz que gosta do humano, que prefere as relações estranhas nesse processo complexo da criação. “Nada é mais bonito que ser o que se é” nos disse ela hoje. Ela nos propôs uma escuta sem bloqueios, uma forma presente de agir com o corpo, buscarmos esse estado de presença, e brincarmos com as coisas do corpo. Sem ficar só na experiência, pois é preciso tecer linhas com o espaço, com o peso, posicionamento e forma dos corpos que se relacionam. A dramaturgia pode ser como uma folha em branco onde escrevemos e buscamos sentido para essas escritas. Aproveitando o estado de silêncio, que é um polo de essência criadora, as impressões impostas pelo vazio nos direcionam na experimentação da dança com inteligência, no sentido de que o corpo está presente no aprendizado. O objetivo do trabalho artístico é emocionar, sendo que o oportunismo pode ser uma boa fonte para a dramaturgia da criação. Refazer é a arte das atividades cênicas, dentro dessas atividades temos o grande desafio de simplificar o presente, sendo que o presente só pode projetar o futuro, na medida em que imediatamente se transforma em passado. Dentro de cada movimento existe um ser por dentro, uma dualidade reveladora. Andar no espaço com porosidade, o ritmo cura, estrutura, linguagem, intervalo.
O olhar focal é o que precisamos na vida, trabalhamos com essa possibilidade de ver a partir de um ponto, o todo. Nosso olhar é repleto de simbologia e desenvolver os olhares é um fundamento necessário para o interprete criador. Tem sido um processo intenso e muito peculiar, passamos pelo comando de grandes mestres, como Lenora Lobo e Rosa Hercules que são discípulas de Klauss Vianna e assim sendo, natural que tenham trazidos um estado de profundos questionamentos e sensações outras. Agora está com Lina num processo que necessariamente resultará numa criação é sem dúvida uma instigante forma de terminarmos esse processo enriquecedor que tem sido a Mostra de Interpretes Criadores Alaya Dança.
O corpo é um instrumento transformador do mundo, dilatado de formas a serem contraídas. Cada ser carrega consigo uma série de sistemas, complexos pela própria natureza. Envoltas por uma pele opaca, nossas partes como, olhos, ossos, carnes e músculos se equilibram entre labirintos e paisagens de encanto ensurdecedor. Quando olho para o outro eu busco me reconhecer. Tudo que me atrai em mim mesmo cabe em qualquer pessoa. Somos formatados para o amor, somos moldados por sentimentos como a tristeza e nos fortalecemos nos tropeços e nos penhascos. Meu sorriso não quer dizer sinônimo de alegria e muito menos de tristeza. Somos mais do que sentimentos. Sinceramente nem sei exatamente do que sou feito.







O corpo, diferente do rádio, é um veículo de comunicação que modifica a informação captada, a ser transmitida. O corpo não é um mero transmissor de informação, ele codifica e modifica as informações de acordo com seu estado atual, com sua consciência, com seu presente. A matéria do corpo é o movimento. Aqui fomos estimulados a movermos nossos corpos, a partir dos ossos. A forma é o que faz as coisas serem o que são, e na dança o movimento pode até ser a forma de levantar questões, pois ele é carregado de possibilidade. Embora o corpo não dê conta de falar de tudo. Não premeditar o movimento pode parecer um excelente meio de encontrar a sua essência. Sem querer chegar ao final do movimento antes dele começar, e sem deixar com que os padrões formatados prevaleçam, pode ser uma forma eficaz de encontrarmos nossas questões. E assim fizemos por horas sobre a orientação de Rosa Hercules, sem música alguma, mas sobre comandos precisos, e recheados de questionamentos.  
Retomando os trabalhos anteriores, requeremos muita sintonia e diálogo com nossas escolhas. Deparamo-nos com o silêncio, com a dúvida. Colocarmos-nos no “aqui agora” talvez tenha sido o maior desafio desses últimos dias com Rosa. Foi um misto “teórico-prático” que nos fez imergir num nível profundo de entendimento de nós mesmo. A sensação dos ossos, o tamanho e forma de cada parte, a repetição como algo que predomina. Premeditar não é um sinônimo de escolha. No caso do corpo a escolha não deveria ser a forma simplesmente, é necessário percepção, ação. Os dias de imersão tem sido intensos e proveitosos, próxima semana, seremos conduzidos por Lina do Carmo que já esteve conosco de forma presencial e em poucos momentos se colocou de forma contundente e pontual. Lina sem dúvida, foi um dos grandes motivos que me fizeram me inscrever nessa plataforma de interpretes criadores Alaya Dança assim com Lenora Loba ambas são conterrâneas que eu admiro. Que venha então uma semana que certamente será surpreendente. Valeu Alaya. E todos colaboradores do Brasil.





20-30-01 de setembro, tudo se misturando.
A Mostra de Interpretes Criadores Alaya Dança tem sido um intenso mergulho em como relacionar questões e pensamentos. Muitas vezes somos levados a retomar as conversas, e isso é essencial para encontramos o sentido de tudo que queremos discutir e fazer. Pois por vezes, é mais importante saber o que não queremos fazer, para depois alcançamos o que queremos realmente fazer. E a própria experimentação é um meio de depararmos com questões a serem discutidas, numa relação direta com nossas perguntas, podemos localizar meios de fazer dos nossos movimentos a essência de tudo que queremos falar. Sem necessariamente falarmos de tudo. Muitas vezes o que é necessário na cena, é apenas o essencial pra que ela faça sentido. Às vezes encontramos coisas que são necessárias de encontramos, saber o que queremos, é fundamental para que, de fato, encontremos sentido no que estamos fazendo. E a ação cênica é estimulada de sentido. O passo a passo tem sentido, deixe o movimento se expandir, deixe que o movimento se manifeste, esse foi nosso grande desafio nesses últimos dias.





Lenora nos propôs em 10 horas de trabalho/estudo um aprofundamento em nossas memórias, nos fez refletir sobre o tempo, dançarmos juntos, combinando elementos, copiando formas, nos contaminando.  Fomos desafiados a fazer o que sempre fazemos, só que por meio de outros estímulos e até mesmo de outros modos. Desenhar no espaço, ou no seu próprio corpo, como se fossemos um pincel que pinta a grande tela, em que agora se transformou o espaço.  Estudar movimentos em uma combinação matemática, locomoção, transferência de apoio e a combinação de tudo isso.




Encontro com o esperado.
Esse foi sem dúvida um encontro que foi bem aguardado por mim. Lina do Carmo é uma das artistas piauienses mais bem sucedidas, ela vive na Alemanha e desenvolve projetos pelo mundo, sem deixar de sempre vir até a sua fonte inspiradora. O Brasil, mas especificamente no Piauí, onde ela desenvolve trabalhos de formação profissional e outros de arte educação na Serra da Capivara. Embora ela tenha uma relação bem estreita com a cultura piauiense eu nunca tive o prazer de trabalhar com ela antes, mas sempre tive vontade. E eis que agora começamos um processo que durará até dia 08 de outubro, onde apresentaremos o processo criativo dos 19 artistas de todo Brasil, que estão imersos na plataforma de criação da Mostra Alaya Dança 2016.

Embora a mostra já esteja na sua sétima edição é primeira vez que tem esse formato, que permite os interpretes criadores ficarem juntos por duas semanas, e possam vivenciar a rotina de uma criação coletiva. Com direcionamentos diversos. Pois Lenora Lobo foi a primeira a nos conduzir com maestria singular e precisão sonora. Seguida por Rosa Hercules que com seu brilho e referências silenciosas, nos conduzido na busca do que nem sabíamos o que era (só sabemos que foi bom). E agora com Lina tudo se reconfigura, de forma orgânica, estamos juntos na busca de uma dramaturgia que consiga dialogar com os diferentes sotaques e as distintas vontades desses criadores que, tem como missão elaborar algo que possa ser mostrado nesse sábado às 16 horas na UNB, para um grupo de pessoas dispostas a integrar e interagir com esse momento de singular importância para cada um dos envolvidos. E porque não dizer para a cultura brasileira?

Ela nos trouxe um entendimento sobre porosidade, que é um estado sensível de ser tocado pelo outro, de se deixar contaminar pela proposta do outro. É uma generosidade desumana, um estado complexo de entendimento que nos possibilita vivencia o contágio, viver as relações de forma consistente, e ser infinitamente generoso e receptivo. É um estado difícil esse, onde nos dispomos a receber as vibrações do coletivo deixando com que elas nos penetrem pelos poros. Ser poroso é se permitir ser sensível a ponto de compartilhar ideias e sentimentos e até mesmo abandonar suas convicções e desiludir o ego. É um exercício que requer paciência e competências que são imprescindíveis quando se busca criar em processo colaborativo. Pois, exige generosidade e compromisso com a dança inteligente e verdadeira que por ser feita por corpos dotados de inteligências natas são fontes preciosas de criação, estranhezas e belezas.






Acordo sobre porosidade Nº 9352

Ser poroso é estabelecer uma condição sensível de ser atingido pelo outro, de se deixar corromper pelo alvitre (fruto) do outro. É se deixar ser afetado e imprimir essa afetação para o coletivo, que também será corrompido. É uma liberalidade atroz, uma circunstância indigesta de acordos, que nos autoriza, vivencia a contaminação das relações com feitios sólidos, imensamente abertos e receptivos.

É uma posição complexa, onde arrojamos nossos sentidos para receber as oscilações do coletivo. Aceitando que essas oscilações nos afundem pelos poros, e entrando pela nossa pele, se construa de sentimento, sentido e verdade. Ser propenso a aceitar sensivelmente as “verdades” alheias. Porosidade predispõe um ponto de partilha, de fusão de ideias e reciclagem de sentimentos. Ou mesmo desamparar nossas afirmações e desenganar nossos egos.

A porosidade é um treinamento que promove paciência e aptidões imprescindíveis, porque se propõe evidenciar um artifício de cooperação. Ser poroso é estabelecer munificência (franqueza) e acordos com corpos astutos e adequados para o presente momento-ação. Um “coro” construído por corpos e suas diferentes cores, paisagens e sotaques. Uma dança composta de astúcias, nascidas em fontes afetadas da criação, com estranhezas que se cristalizam e belezas que se transformam.  Hoje trabalhamos muito.








Eis que veio uma chuva chamada Rosa.
Hoje tivemos a chegada da Rosa, uma sediciosa figura. Cheia de sensibilidade, conceitos e referências grandiosas. Ela nos tomou hoje como uma tempestade, um exercício de escutar. O estudo da escuta, parte de um estado quase enlouquecedor, que em segundos nos enche de pensamentos. Foi uma manhã tempestuosa, difícil, e foi também uma possibilidade de resignificar o conceito de difícil, pois, tendemos a entendê-lo como algo ruim, e não, absolutamente não foi ruim, foi difícil mas foi bom.  Hoje escutamos nossos corpos, nossas vozes, nossos pensamentos, criamos em coletivo e mostramos um resultado. Tocar e se mover pela pele, um imaginário criativo, um exercício de possibilidades, fomos estimulados em duplas, em trios e quartetos. Tocamo-nos e nos observamos ao sermos tocados. Fomos tocados e provocados pela Rosa, buscando nossos significados.
A potência do corpo, a máscara, nossas falas carregam os nossos entendimentos, elas representam nossas escolhas, e são tomadas por nossas decisões, e Rosa nos provocou quanto a isso, nos fez refletir sobre o que somos, e por que estamos juntos aqui. Provocou-nos para que não sejamos reféns de nossos discursos, muito menos que sejamos meros representantes de discursos já formatados e padronizados. É importante refletir sobre nossas falas, e o que produzimos a partir delas, hoje falamos muito.  Por outro lado é possível sermos veículo de valores e ideias que congregamos, é preciso pensar outros jeitos de fazermos nossas cenas e nossos trabalhos, sem necessariamente buscarmos algo novo. E sim algo que se assemelhe com nossas palavras.
A dramaturgia é a escrita da ação. Os passos são conjuntos de ações incorporados no movimento, sendo que quando você se move seus entendimentos e vivências são incorporadas nesses movimentos. Foi uma manhã tempestuosa, Rosa passou sobre nós como um rolo compressor feito de papel bolha, nos encheu de “tapas na cara” com uma mão de pelúcia, nos criou problemas impossíveis de serem resolvidos. Nos possibilitou repensar sobre nós mesmo, sobre nossas danças, nos fez sermos pequenos. Nos possibilitou entender que nossa pele não é apenas um órgão que envolve todo nosso corpo. Ela é uma teia criativa de infinitas possibilidades. Foi preciso sermos sacudidos, certamente entraremos mais fortalecidos para a nova vivência de amanhã com uma tempestade de ideias chamada Rosa.





Juntar pessoas é desenvolver ideias que com uma pincelada poderia se transformar em cenas. Às vezes temos uma ansiedade em colocar todas as ideias numa única coreografia, isso é ineficaz, pois, pode desvalorizar nosso trabalho, pelo acúmulo da criação um lixão. 3 mais 3, mais 3, mais 3 ... Uma potência individual pode se transformar numa potência coletiva, um coro. É um meio de acesso, atenção, intuição, inspiração. Tudo que um bom criador ver ao seu redor, ele trás pra sua criação. O Teatro do Movimento é um mergulho na criação.
CORPO
AÇÃO
ESPAÇO
DINÂMICA
RELACIONAMENTO
Uma matemática criativa que junta partes pra criar um todo.
Atenção para a chamada: Carolina, Taís, Elizabeth, Rodrigo, Eloisa, Carol, Guilherme, Elem, Dili, Carol, Castelo, Moisés, Fabiana, Beneto, Alexandre, Lisiane, Tiago, Rafael, Cleani, Macilma, Vitor, Maria, Samuel Lorena e Eu (Negro Val) Faltou alguém na chamada?

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